Primeiramente, irei comentar as relações de casal entre os dois principais casais do filme.
Acho interessante comentar que até agora só encontrei críticas ao filme que atentam ao fato de que a relação entre Li Mu Bai e Yu Shu Lien não possui uma manifestação sexual, só que esta é colocada como uma "falta de realização".
Eu discordo desta maneira de ver.
Acho que Li Mu Bai e Yu Shu Lien realizam a relação de maneira bastante madura, levando em consideração os limites impostos socialmente.
Em uma época onde barreiras ou convenções sociais são constantemente ignorados em nome "de uma grande paixão" ou de "uma atração irresistível", realmente deve ser muito difícil aceitar que as pessoas possam "viver seus amores" de outras formas que não incluam a realização sexual.Neste sentido, há um momento bastante marcante no filme, onde o casal está tomando chá e Li Mu Bai segura a mão de Yu Shu Lien e diz que as realizações físicas são ilusórias, mas é ao lado dela que ele quer viver e sente-se em paz. Nota-se que cada indivíduo possui sua próprias realizações, sentem-se seguros e não há vínculos de dependência.
Esta relação de casal é compensatória à relação do jovem casal; onde nota-se claramente, desde o primeiro momento, a necessidade de "disfarçar" ou "esconder" seus sentimentos, como se a possibilidade de revelá-los troxesse à tona uma grande fragilidade e dependência, onde o outro certamente manipularia, então, estabelece-se um jogo de "quero não-quero".Jen e Lo amam-se e querem permanecer unidos, mas aparentemente não podem falar sobre isto, preferem representar um papel, como se a relação lhes fosse indiferente.
Nas cenas finais do filme, esta diferença aparece de forma forte.
E para compreendermos o que diz Li Mu Bai para Yu Shu Lien em seus momentos finais de vida, teremos que compreender também a perspctiva religiosa oriental (clássica).Espero que os estudiosos perdoem a maneira superficial como tratarei o tema.
Não importando o nome que é dado a esta busca (Deus, Alá ou terminações "ismo") a grande maioria do movimento religioso ocidental possui uma orientação extrovertida, como abusca de uma instância metafísica que possui uma existência "fora de nós", seja que nome possua esta instância (espíritos, o amor, Deus, bens materiais - como representantes de um bem-estar completo - ou movimentos políticos, ideais, a aprovação e reconhecimento, etc, etc). Enquanto isto, a existência e realidades internas esvaziam-se de significados (sonhos, fantasias e imaginações), e forma-se um grande "vazio interno" povoado de fantasmas ou como é chamado popularmente, de "trabalho do diabo", espaço propício para para todo o tipo de doença psíquica, ou, em sua forma mais aceitável, o consumismo.
Já o que as religiões orientais clássicas possuem em comum é uma orientação introvertida da energia psíquica (conpensatória à forma ocidental), onde o equilíbrio, o bem-estar é procurado dentro do indivíduo. É valorizada a relação com a imaginação, os sonhos a meditação, em detrimento à relação com os objetos externos.
Wudan é um templo taoísta, enquanto Shaolim representaria o budismo.
Devo confessar que desconheço publicações mais extensas a respeito do taoísmo, mas, do pouco que conheço o budismo ( e devo lembrar que são mais de 400 correntes diferentes), a vida e a morte representam "facetas" da mesma "roda",mas, diferentemente dos ocidentais, os orientais não buscam o renascimento ou reencarnação, por entenderem que a vida carrega consigo, naturalmente a geração de um ego carregado de desejos e paixões ilusórias; logo, o renascimento seria um "convite" a uma série de sofrimentos. Não deve ser desejada a morte também; mas a vida deve ser vista como uma grande preparação onde a morte representa seu ponto culminante. A pessoa deve tentar se manter o mais consciente e concentrada possível, a fim de reconhecer as ilusões que sua alma formará e assim, obter a iluminação.
Então, em nossa história, Li Mu Bai avisa a Yu Shu Lien que só possui duas respirações, ao que ela pede-lhe que as poupe, a fim de obter mais concentração. Neste momento ele diz que prefere ser um fantasma a rodeá-la do que permanecer no Nirvana sem ela.
Diferente de Jen e Lo, que depois disto, encontram-se no templo Wudam.
Jen pergunta o que Lo deseja, ao que ele responde: "Voltar para o deserto!". Talvez a vida ao lado de Jen seja importante, mas o primordial para Lo é o lugar onde ele vive, e não suas relações.
Terminado este comentário sobre as particularidades de cada casal, retorno ao que foi comentado sobre o símbolo do número 4, em meu último artigo. Os casais representam uma oposição complementar, onde, se houvesse uma abertura para que cada indivíduo reconhecesse seus aspectos sombrios, haveria uma ampla integração.
Agora é o momento de introduzir o elemento desorganizador, a personagem Jade Fox.
Segundo o "Dicionário de Símbolos" (mesmos autores já citados), "Na China,(...) 5 é o número do Centro. Encontra-se na casa central de Lochu. O caracter wu (cinco) primitivo é, precisamente, a cruz dos quatro elementos, aos quais se junta o centro. Numa fase ulterior, dois traços paralelos aí se unem: o Céu e a Terra entre os quais o yin e o yang produzem os cinco agentes. Também os antigos autores asseguram que debaixo do céu, as leis universais são em número de cinco. Há cinco cores, cinco sabores, cinco tons, cinco metais, cinco vísceras, cinco planetas, cinco orientes, cinco regiões do espaço e, naturalmente, cinco sentidos. Cinco é o número da Terra. É a soma das quatro regiões cardeais e do centro, o universo manifestado. Mas é também a soma de dois e de três, que são a Terra e o Céu na sua natureza própria : conjunção, casamento do yin e do yang, do T'ien e do Ti. É também o número fundamental das sociedades secretas. É essa união que as cinco cores do arco-íris simbolizam. Cinco é, ainda, o número do coração."
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