É interessante lembrar que muitas das características dos deuses provém de suas origens, ou seja, características de seus pais, situação de concepção ou situação no momento do nascimento.
Apolo e Ártermis são irmãos gêmeos, filhos de Leto, amante de Zeus.
Como toda a amante de Zeus, foi perseguida por Hera, sua esposa, que proibiu a Terra de acolher a parturiente. Leto recolheu-se à ilha de Delfos (os gregos entendem as ilhas separadas da terra). Então Hera mandou que sua filha, Ilítia (deusa dos partos) cruzasse as pernas, e quando Ilítia cruza as pernas, nenhum ser vivo consegue dar à luz.
Leto sofreu, durante 9 dias e 9 noites as dores do parto, sem conseguir dar à luz, agarrada a uma palmeira. As deusas Afrodite e Deméter, compadecidas da dor de Leto, presentearam a Hera com um grande colar (que representava seu poder) e então, foi permitido que Ilítia descruzasse as pernas e Leto finalmente concebesse os gêmeos.
É a partir deste momento na história que existem versões diferentes.
Em uma das versões, nascem as crianças que continuam a ser perseguidas, e Leto e os gêmeos se transformam em vários animais, a fim de escapar da fúria de Hera.
Em outra versão, os gêmeos nascem adultos (o que corresponde a uma reação pela enorme quantidade de sofrimento - a impossibilidade de serem frágeis) e primeiro nasce a deusa Ártemis, que, ao ver o sofrimento da mãe, solicita aos deuses permanecer sempre virgem; o que lhe é concedido, depois, ajuda a mãe a conceber Apolo, que é recebido, ao nascer, por duas mulheres poderosas.Conseqüentemente, o poder de Apolo terá de ser concebido de forma diferente aos poderes da irmã e da mãe.
Ártemis e Apolo, na fase olímpica dos deuses gregos, irão representar, respectivamente, a lua e o sol, substituindo os antigos deuses Céris e Hélios.
Acho que ainda cabem alguns comentários interessantes sobre as características do deus.Uma delas, a mais óbvia, a imortalidade. Existe uma passagem dos mitos do deus Apolo onde ele se apaixona por uma mortal, esta passagem é lindamente representada em um filme moderno, chamado "Highlander", onde a personagem principal, interpretada por Christopher Lambert luta pela mortalidade(!), e entre sua aventuras, apaixona-se por uma camponesa (interpretada por Beatie Edney) e casa-se com ela. Após anos de convivência, obviamente a camponesa envelhece e morre, enquanto ele permanece sempre jovem. A passagem do filme é forte, embalada pelo som da banda inglesa Queen, "Who wants to live forever?".
Interessantemente,na história do filme, é só quando a energia de todos os "imortais" é integrada, o herói alcança a mortalidade, e com ela, a capacidade e liberdade para amar e compreender.
Esta é a outra característica de Apolo sobre a qual pretendo escrever.
Como as funções "pensamento" e "sentimento" são opostas, cada uma delas só pode ser desenvolvida separadamente. Uma vez que o deus Apolo estabelece seu poder de uma forma intelectual, a questão sentimental não consegue se desenvolver, o que gera um "sintoma" que é a desconfiança.
A desconfiança é o primeiro sintoma da disfunção do sentimento.
Como coloquei anteriormente, a função sentimento desenvolve os valores, inclusive a auto-estima, portanto, na maior parte das vezes, a desconfiança é uma projeção da baixa auto-estima.
Nota-se em Apolo uma defesa: ele apaixona-se, mas em seguida, abandona o objeto da paixão. Apesar da grande beleza, o deus teme ser abandonado.
Muitas mortais já conhecem esta característica do deus, e recusam-se a contrair casos amorosos com ele, como Cassandra,( a obsessão do deus sobre o seu amor gerou-lhe uma verdadeira maldição) a quem ele deu o dom da profecia, assim como o descrédito de todos em sua palavras.
3 comentários:
Parabéns pela iniciativa Georgia. Este será mais um canal de comunicação e reflexão. Estou no Aeroporto de Miami, após duas semanas a trabalho aqui nos EUA, e devorei o blog inteiro rapidamente, e, assim como nas aulas, fiquei com gostinho de quero mais. Como é um Blog, vou fazer uma perguntinha básica para variar, hehehe.
- O sofrimento pelo qual Leto passou para ter os filhos gerou alguma consequência em seu comportamento futuro em relação a eles?
Beijos e estou aguardando o próximo post.
Marcelo, já conheces outros mitos.
Esta é só uma lembrança.
Em "A Maldição dos Atridas", Níobe, filha de Tântalo, se declara superior à deusa pelo fato de ter 14 (ou 20) filhos. Leto solicita aos seu que matem os filhos desta. Níobe, transtornada pela dor da perda, transforma-se em uma rocha que "chora". Os filhos que trazem mais sofrimento ou trabalho são aqueles aos quais as mães mais se unem. É instintivo.
Próximo post é sobre "O Tigre e o Dragão".
bjs e boa viagem!
É delicioso ler-te, me remete diretamente àquele oceano de belas histórias que me embalavam ao te ouvir...
Quanto a Apolo e Dafne, li em "Almas Gêmeas" do Thomas Moore, que pode haver uma relação de Apolo com a cultura e Dafne com a natureza... assim, às vezes, Apolo é aquele impulso em nós para relacionar, enquanto Dafne é aquela que resiste, que se preserva, a "virgem" que não quer ser "adulterada" pelo masculino. A Clarissa Estés, muito divertida, fala da energia do masculino como sendo quente e vibrante, mas algo que as mulheres precisam as vezes se banhar na sua própria.
saudades, prazer conversar contigo.
Cíntia
Postar um comentário