quarta-feira, 19 de março de 2008

O Tigre e o Dragão

Farei o comentário em várias partes, visto que o filme, as relações e a trama é complexa.

Iniciarei pela ficha técnica, assim como o comentário de outros críticos.

Ficha Técnica
Título Original: Wo hu zang long
Gênero: Ação
Tempo de Duração: 120 minutos
Ano de Lançamento (Taiwan): 2000
Site Oficial: www.crouchingtiger.com
Estúdio: Columbia Pictures Film Production Asia / Sony Pictures Classics / Asia Union Film & Entertainment Ltd. / China Film Co-Production Corporation / Edko Films / Good Machine / United China Vision / Zoom Hunt International Productions Company, Ltd.
Distribuição: Sony Pictures Classics
Direção: Ang Lee
Roteiro: Hui-Ling Wang, James Schamus e Juo Jung Tsai, baseado em livro de Du Lu Wang
Produção: Li-Kong Hsu, William Kong e Ang Lee
Música: Tan Dun
Direção de Fotografia: Peter Pau
Desenho de Produção: Timmy Yip
Figurino: Timmy Yip
Edição: Tim Squyres
Efeitos Especiais: Blue Sky Studios / MVFX


Elenco
Chow Yun-Fat (Li Mu Bai)
Michelle Yeoh (Yu Shu Lien)
Zhang Ziyi (Jen)
Chang Chen (Lo)
Lung Sihung (Sir Te)
Cheng Pei Pei (Jade Fox)
Fazeng Li (Governador Yu)
Gao Zian (Bo)
Hai Yan (Madame Yu)
Wang Deming (Tsai)
Li Li (May)


O Tigre e o Dragão é a tradução que recebeu em português o título de uma novela chinesa de artes marciais ("wuxia") do escritor chinês Wang Du Lu. Em inglês seu título é Crouching Tiger, Hidden Dragon (Chinês tradicional: 臥虎藏龍) (Chinês simplificado: 卧虎藏龙) (pinyin: Wò Hǔ Cáng Lóng).
A novela inspirou a criação de um filme dirigido por Ang Lee


Com base em um romance épico de cinco volumes do escritor Wang Du Lu, o filme, falado em mandarim, retrata a China no início do século XIX, através da disputa de dois casais de guerreiros por uma espada lendária, roubada após o mestre de artes marciais Li Um Bai decidir se afastar das lutas e combates. A suspeita do furto recai sobre a guerreira bruxa Jade Fox, que no passado assassinou o mestre de Li Um Bai.
O filme se destaca pela bela mescla entre romance e artes marciais, onde a principal atração é representada por interessantes cenas de lutas que superam a lei da gravidade. A técnica para tais efeitos utilizou cordas (retiradas digitalmente das cenas) que, movimentadas por um grande guindaste, suspendiam os atores numa velocidade impressionante, fornecendo uma plástica singular, através de movimentos com muita leveza para os embates.
Outro ponto forte do filme é a fotografia, com belíssimas tomadas de regiões desérticas da China.

O "KUNG-FU" AO LONGO DA HISTÓRIA

A época retratada pelo filme (início do século XIX), é marcada pela Dinastia Qing (1644 -1911), responsável pelo início da decadência do kung-fu no Império Chinês sob domínio manchu.
A prática do kung-fu na China, iniciou-se no século XI a. C. com a Dinastia Zhou, tornando-se posteriormente uma exigência para formação do exército. Essa arte marcial ganhou impulso entre os séculos VII e IX com a Dinastia Tang, onde todos os oficiais e soldados deveriam passar por testes antes de serem promovidos. Ao longo da Dinastia Ming (1368-1644), o kung-fu ainda prosperou, entrando em decadência na Dinastia Qing (1644-1911), quando foi proibido por todos imperadores.
Restabelecido em 1912 após a proclamação da República, o kung-fu foi preterido com a ascensão dos comunistas em 1949, quando muitos mestres por motivos políticos, emigraram para Taiwan e para Hong-Kong.


http://www.adorocinema.com/filmes/tigre-e-dragao/tigre-e-dragao.htm

Ainda em:

www.cinedie.com/images/cthd.jpg


A expressão chinesa que dá nome ao filme sugere cautela perante perigos dissimulados ou pessoas que podem não ser o que parecem. Mas Lee joga com outros conceitos, especialmente o de desejo reprimido. Pelos próprios (Shu Lien e Mu Bai) ou pelos valores da sociedade e da família (Jen). Este desejo de liberdade é personificado pela personagem de Jen, cujo nome chinês é Yu Jiaolong (long = dragão), não se encontrando nenhuma justificação óbvia para a “adaptação” na legendagem (que, obviamente, vem da versão inglesa). Ela quer ser livre para amar quem quiser (Lo), mas também para fazer o que bem entender, sem respeito pelas normas de conduta do mundo a que quer pertencer, sem dar “face” a opositores ou àqueles que com ela se preocupam. Para ela, o caminho da liberdade passa pela ruptura com a família e com a sociedade aristocrática a que pertence, e pela entrada no “jiang hu”. Ironicamente, Mu Bai e Shu Lien – os quais perseguem o “dragão” –, pertencem a esse mundo, mas isso não os torna mais livres, pois permanecem constritos por convenções que os forçam a não resolver a longa repressão de sentimentos
Lo é uma personagem algo secundarizada, apesar de protagonizar um longo segmento em flashback, talvez por não intervir em nenhuma das memoráveis cenas de acção. Uma vez mais, o seu nome chinês corporiza um segundo elemento, contraposto e complementar do primeiro: Lo Xiaohu (hu = tigre). Esse momento narrativo foi uma decisão do realizador que muitos não apreciaram. Mas esses 20 minutos no deserto, adicionados aos 15 iniciais, destinados a introduzir o público ocidental à sociedade chinesa da Dinastia Qing, constituem compromissos narrativos mínimos e acabam por reforçar o efeito dos segmentos mais movimentados (como poderia dizer Li Mu Bai, “sem contenção não há acção”).
A definição das personagens é essencial às artes marciais. A personalidade e a formação/treino nas artes definem o modo como cada guerreiro luta. Shu Lien está mais presa à terra (e à memória do noivo), sendo tal notório na cena da perseguição ao ladrão da Destino Verde. Jen, pelo contrário, não tem nada que a prenda, estando disposta a abandonar tudo e (provavelmente) todos, daí a sua maior leveza. Os combates em si funcionam como um libertar de frustrações. No fundo, é como se estivéssemos perante um convencional drama de época, com os conflitos familiares, rupturas de relações, gritos e lágrimas, substituídos por artes marciais

Este género não é familiar a grande parte do público ocidental. “Wuxia” significa literalmente “guerreiro” ou “cavaleiro errante” e está para a China como o western pode estar para os EUA. A acção do wuxia passa-se num passado mítico, uma espécie de realidade alternativa, onde os praticantes de artes marciais podem atingir capacidades sobre-humanas. A canalização da energia interna (qi), em consonância com elementos naturais (água, vegetação, etc.) permitem-lhes executar “saltos sem peso”, com maior ou menor graciosidade.

Em seguida posto meu comentário.

2 comentários:

Levis Litz disse...

Achei excelente a esplanação deste tema. Gostaria de saber se posso divulgá-lo: no meu Blog, Grupo de Discussão Yahoo e na minha comunidade do Orkut - Tudo com o crédito deste Blog. Se não for possível, eu entenderei. De qualquer forma, muito bom o conteúdo. Parabéns!

Unknown disse...

Concordo com o Levis!
Li tudinho que escrevestes sobre o filme e foi o que eu estava precisando, umas doses de Psico, filosofia, entendimento e profundidade.
Um abraço,
Adriana