Quem é que nunca se apaixonou por um objeto fugidio?
Há alguns anos atrás fui convidada a palestrar em uma semana acadêmica da ULBRA, e iniciei meu encontro com esta pergunta.
Risadinhas foram a minha resposta.
Sempre procuro associar uma experiência cotidiana ao aprendizado da mitologia grega. Talvez meus alunos não decorem o nome das personagens, mas com certeza, ao final do mito, sabem ao que tal história se refere.
O mito de Apolo e Dafne não só nos elucida do porque tal fenômeno acontece como também nos descreve a respeito das características da intelectualidade (em tempos remotos da história da humanidade e também hoje). A respeito das ligações do deus Apolo com a característica "intelectual" eu recomendo a consulta do livro "Mitologia Grega II" de Junito de Souza Brandão.
O mito inicia-se assim:
"Apolo debocha de Eros"; porque suas flechas não matam. Eros decide então fazer com que Apolo "saboreie" do poder de suas flechas e o acerta com uma flecha de atração, enquanto também atinge Dafne, uma mortal, com uma flecha de repulsão.
Apolo então aproxima-se de Dafne, que afasta-se e assim se segue, sucessivamente, até o momento em que se encontram em desabalada correria, Apolo atrás de Dafne.
Ao pressentir que o deus iria alcançá-la,e não desejando tal encontro, Dafne suplica aos Deuses ser metamorfoseada;e estes assim o fazem: transformam-na em um loureiro, que se torna a árvore preferida de Apolo.
É através deste mito, assim como também o mito do Minotauro, que temos a oportunidade de verificar a dinâmica das funções psíquicas, da forma como nos coloca o psiquiatra suíço C.G.Jung em vários de seus livros.
Em um deles, "Fundamentos de Psicologia Analítica", o autor nos descreve as funções de maneira simples, colocando "pensamento" e "sentimento" como funções opostas, uma delas sendo desenvolvida na consciência enquanto a outra permanece no obscuro inconsciente. Estas são as chamadas "funções principais", dispostas em um eixo, sendo este, cortado por outro eixo chamado "secundário" ou "auxiliar", onde encontramos as funções psíquicas "percepção" e "intuição", que possuem a mesma disposição no que se refere ao consciente ou inconsciente.
vamos nos debruçar apenas sobre o eixo principal para entendermos o mito e a dinâmica destas funções.
Segundo Jung, a função pensamento nos diz "o que as coisas são", enquanto a função sentimento diz respeito a um sistema de valores, "o quanto elas valem".
Para nós, ocidentais, é fácil entender a definição da função pensamento, mas também é muito fácil confundirmos função sentimento com "emoção" ou até mesmo "obsessão". Muitas vezes, quando uma função sentimento permanece muito tempo pouco desenvolvida no inconsciente, quando a mesma "sobe a tona", vêm sob a forma de uma obsessão. Pode-se dizer, neste momento, que não é "fulano" quem tem sentimentos, mas "os sentimentos o tem".Geralmente estas pessoas julgam-se "sensíveis", procurando reprimir ainda mais o que sentem, ao invés de compreender um processo compensatório.
"É na falta da água que se pode compreender a profundidade e extensão de um rio", me dizia um conhecido; e a mesma regra, infelizmente, serve no que diz respeito à grande maioria dos ocidentais, que possuem uma intelectualidade bastante desenvolvida, enquanto seus sentimentos permanecem "na(s) sombra(s)".
Voltando ao mito, "Apolo debocha de Eros", é a maneira como geralmente a função pensamento se relaciona com a função sentimento, que, por sua vez, mostra-nos qual é a sua força, fazendo com que nos apaixonemos por um objeto fugidio, ou que nos despreze, a fim de que, através do sofrimento possamos reconhecer seu poder.
Dizia Fernando Pessoa "os deuses são deuses porque não se pensam", ou seja, não possuem, como nós, a possibilidade de conhecer suas falhas e se transformar, então, na exaustão deste processo, ao alcançar o objeto do desejo, ele se metamorfoseia.
"O loureiro dá louros e com os louros nós fazemos o que?"
Pergunto eu em sala de aula, ao que me respondem: "feijoada!"
"E também a COROA DE LOUROS!"
O que significa que a incompreensão do processo transforma as pessoas em objetos, e o objetivo da trajetória em uma vitória, e não em um encontro.É provável que a partir deste ponto, a mesma história se repita, ou seja, o indivíduo não compreendeu ou conscientizou o processo; precisa passar pela mesma lição outra vez!
Como reverter este processo?
Precisamos nos conscientizar dos valores de coisas, pessoas, relações e até mesmo de nosso próprio valor; precisamos ocupar os "lugares" que nos cabem, entender as relações como instâncias separadas de nossos sentimentos.
Todas as pessoas possuem liberdade de escolhas, inclusive nós.
Qual é a vida que queremos ter?
7 comentários:
mta gente pode responder teu questionamento (le grand finale, hein?!) com o teu título anterior "ainda em definições"...
ou então rir e fazer feijoada!
ahahah, profundos...
adorei o texto, estou meeeesmo precisando "revisar" esses conteúdos!;)
bjos
Que convite tentador! te encontrar na internet, os mitos, as idéias de Jung, até a tua foto! é demais... ainda a possibilidade de deixar uma mensagem... não resisti! adorei a denúncia da falta de cuidado com o ambiente, cocô na calçada, escarrada, não dá aguentar! viu que estou informada, estou te procurando para te convidar para uma fala! topas? como conversamos? muitas saudades bjssss Simone
Ué...., tem telefone, endereço..., só falta sinal de fumaça!
É só ligar!
Bjssss Georgia
afilhado abandonado (parte 1)
o passado retorna ou como refere einstein esta sempre por aqui te achamos.que bom ler o que tu escreves é como falar contigo temos e queremos muitas noticias aqui já somos quatro abraços saudades marcia, jorge, ricardo (afilhado abandonado) e marina.
Que bom que nos achamos!hahahahaha
Andava pensando no meu afilhado, que já deve ter uns 14 anos.....
Nós também já somos quatro: Georgia, Thomaz, Christian e Dario :D
Eu tenho 13, como vai o thomaz.
nosso tel:
33333812
meu email:
ricardo_sabedra@hotmail.com
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